Fui o cara legal

Deixei ela no ponto e assim não tive nem a chance de virar 180º.

Fui abordado por um cara com sotaque hispânico que perguntou se eu era policial e depois se eu falava inglês. Eu disse que falava, ele colocou as mãos na cabeça e suspirou em alívio.

Ele contou que é italiano, foi assaltado no guadalupe e não conseguiu encontrar o consulado/ebaixada/whatever italiano aberto. Contou que os policiais mandaram ele prum albergue cheio de drogados e vagabundos, e que ele conseguiu um hotel por 15 reais perto do terminal, mas não tinha grana.
Disse que ofereceu a jaqueta dele como garantia pra pagar depois, mas o cara não aceitou.
Me pediu ajuda e ofereceu pra mim a jaqueta.
Ele não tinha muita cara de italiano, e tinha a historia do sotaque. Mas ele tinha uma linguagem corporal inofensiva e eu confiei. Óbvio que não aceitei a jaqueta né, tava mega frio.

Ele disse que estava na rua pedindo ajuda faziam duas horas, e ninguém tinha parado.
Falei pra irmos caminhando até o hotel dele. Ele foi indo na direção do guadalupe.
Me pediu endereço, telefone, jurou que não queria comprometer minha segurança (praticamente me mandou não pensar num fusca azul né hahaha).
Eu confiei.

Ele me contou que tem um irmão diretor de cinema em hollywood. Me contou que o sobrenome dele eh Quatrini, que isso é como chamam dinheiro na itália e da ironia de hoje ele estar sem nenhum. Perguntou se eu era hacker e disse que morou na Venezuela por alguns anos (daí o sotaque hispânico).
Disse que ia me ligar as 15hs, e perguntou se podiamos sair a noite, num bar que toque música ao vivo.

Dei 20 contos pra ele.

Posso ter sido enganado, podia ter sido assaltado por 5 imigrandes paraguaios fingindo ser da Itália, podia ter voltado pelado pra casa, levei tudo isso em conta enquanto caminhava, mas preferi confiar.
Se tivesse me fodido, esfregaria na cara do mundo: Fui um cara super gente boa, tomei no cu, e isso não vai me impedir de continuar sendo.